Talvez, o erro mais comum do eleitor médio brasileiro é acreditar que as eleições acontecem somente de dois em dois anos. Elas, verdadeiramente, nunca param de acontecer e são construídas a todo momento. Aqueles que serão candidatos em 2024 e 2026 estão, desde já, em campanha.
Nas campanhas majoritárias, em especial, um outro componente requer a nossa atenção: a possibilidade ou não de reeleição dos mandatários no próximo pleito. A partir da instituição da reeleição, este se torna um ponto chave para a construção das plataformas e das consequentes carreiras de cada ator político.
Em 2026, alguns dos governadores de estado que obtiveram sucesso agora não poderão mais se reeleger. É o caso de todos aqueles que cumprem a partir de 2023 o seu segundo mandato. É preciso, portanto, acompanhar de perto a construção política de cada um. Isso porque são eles os potenciais atores do processo eleitoral que acontece em quatro anos.
Romeu Zema e o partido Novo
Integrante do partido Novo, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, foi reeleito em primeiro turno com mais de 56% dos votos válidos, apesar da predisposição inicial do partido (agora revista) contra a reeleição. Como qualquer governador de Minas Gerais, Zema é, desde já, um presidenciável. O governador das montanhas de Minas tem, além disso, muitos outros predicados.
Os desafios do governador reeleito foram muitos:
Em seus primeiros dias de mandato, Zema precisou enfrentar a maior tragédia natural da história do país: o desastre criminoso de Brumadinho. O fez com sucesso;
Encarou muito bem a maior pandemia da história recente, na contramão do governo federal, liderado pelo negacionista ex-presidente Bolsonaro (seu aliado).
Colocou os pagamentos e repasses do estado em dia, apesar das dívidas legadas pela gestão do petista Fernando Pimentel e da discussão, ainda a ser avançada, sobre o regime de recuperação fiscal junto à União.
Vindo do Novo, um partido sem musculatura, capilaridade e experiência de gestão, pode-se dizer que o governador realizou verdadeiros milagres para se reeleger. Deve-se a reeleição, em grande parte, ao seu perfil e sua capacidade gerencial.
Romeu Zema comandará mais uma vez o estado que é considerado pelos principais analistas políticos como a síntese da política nacional. Quem vence em Minas, vence no Brasil. Esta peculiaridade e suas capacidades já demonstradas sugerem que deva ser muito bem acompanhado por nossos olhos atentos até 2026.
Helder Barbalho - The king of the North?
Em 2022, Barbalho foi o primeiro governador eleito em primeiro turno do estado do Pará desde a redemocratização. Reeleito com mais de 70% dos votos e tendo reunido em sua coligação caciques do Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), o governador se consolida como uma das principais forças políticas no norte do país.
Filho de Jader Barbalho, importante político brasileiro, Helder mostra-se um importante articulador. Consegue reunir em torno do seu partido, o fortíssimo MDB, proeminentes figuras da política local, oriundas de diversos espectros.
Sua reconhecida capacidade de aglutinar politicamente, a trajetória política recheada de vitórias (desde a primeira eleição a vereador em Ananindeua -2000), sua origem nortista, bem como sua projeção interna no MDB de Simone Tebet o crendenciam como um grande ativo para o pleito de 2026. Seu segundo governo tem início com a sua indicação para presidir o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal (CAL). Até aqui, s sinais são claras do seu protagonismo. A conferir.
Eduardo Leite - Novos ventos do Sul Jovem promessa do sul do Brasil, Eduardo Leite reelegeu-se governador do Rio Grande do Sul, sobrepujando um dos preferidos do ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro Onyx Lorenzoni. Apesar de ser declaradamente contra a reeleição, Eduardo Leite valeu-se do seu afastamento do cargo no início de 2022 para justificar a reapresentação de seu nome ao eleitorado gaúcho. Ao contrário do entendimento de Leite, o TRE-RS declarou que o mandatário foi reeleito e, portanto, não poderá disputar novamente a eleição para o governo em 2026.
Com apenas 37 anos de idade, o governador é um dos poucos políticos brasileiros que se declaram gays abertamente. Apesar de expor sua orientação sexual e vida pessoal a um dos eleitorados mais conservadores do país, Leite sagrou-se campeão nas urnas. Agora, inicia o seu segundo mandato como presidente nacional do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Apesar da diminuição do protagonismo, a história e capilaridade do partido sugerem que o governador terá um campo fértil para explorar nacionalmente.
Em tempos de alto desgaste das imagens dos velhos caciques políticos e, em face do movimento de renovação política iniciado em 2018, Eduardo Leite consolida-se como importante figura política e grande alternativa para o pleito de 2026. Não fossem os movimentos políticos questionáveis do PSDB e a grande polarização nacional, Leite talvez tivesse tido uma chance ao lado de Simone Tebet em 2022. Aguardemos, pois, as cenas dos próximos capítulos.
Gustavo Dias
Mestre em Comunicação Social e Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisador do Grupo de Imagem e Sociabilidade da UFMG. Escreve sobre política, suas estratégias e comunicação.
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