Gestão de crises não é para amadores! Especialmente, se o atingido for um político no exercício do mandato. O fritado da vez é o vereador Léo Burguês na câmara municipal de Belo Horizonte. Vejamos as possíveis saídas para uma crises como essa.
Mais uma vez, a política mineira nos obriga ao exercício teórico. E se eu fosse o responsável pela comunicação de Léo Burguês? Na tarde de ontem (30), o vereador e ex-presidente da câmara participou de entrevista coletiva, convocada pela mesa diretora, para prestar esclarecimentos sobre o pedido de cassação do seu mandato.
Léo Burguês é acusado, entre outros crimes, pela prática da chamada rachadinha, quando um ou mais assessores sacam parte do salário e devolvem ao vereador. Ele nega as acusações e, agora, passa a se defender frente à corregedoria da câmara.
Este artigo não tem pretenção, é claro, de estabelecer um plano completo de reação. Pretendo, apenas, pontuar brevemente algumas alternativas.
TODA CRISE É MIDIÁTICA
Todo e qualquer político está sujeito à avaliação da opinião pública. Isso ocorre desde sempre e para sempre. As pequenas diferenças que podemos estabelecer entre tempos passados e os atuais está basicamente circunscrita à arena pública.
Os processos de midiatização avançaram em todos os campos da nossa vida com a modernização e uso cada vez mais frequente das tecnologias. Não era de se esperar que no campo da política isso ocorresse de outra maneira. A presença, cada vez mais frequente, dos políticos e cidadãos nas mídias nos permite diagnosticar um deslocamento da arena pública para lá.
Isso nos permite dizer que boa parte da política não pode ocorrer sem influência direta das construções de narrativas enunciadas, reverberadas ou amplificadas pela mídia. Este papel fundamental da mídia no campo político evoca para a comunicação política uma importância outrora não tão observada.
Um fato importante sobre políticos em geral é que eles desenvolvem muita confiança no exercício do cargo! É possível dizer que a confiança adquirida é diretamente proporcional ao número de mandatos. Políticos experientes e com muitos mandatos tendem, portanto, a negligenciar consultorias, assessorias, análises mais aprofundadas e, com relativa frequência, passam a atuar por instinto.
ESPETÁCULO POLÍTICO-MIDIÁTICO
A convocação de uma entrevista coletiva por parte do presidente da câmara municipal de BH, vereador Gabriel Azevedo, já deu o tom de espetáculo. Com palco, cena e discurso, o vereador não segurou o peso das palavras. Bradou aos microfones que "não tem compromisso com a corrupção. Pelo contrário, eu tenho horror a corrupção". Por si, essa atitude já mostra o tom do processo em curso.
Sobre a prática ou não dos crimes pelos quais o vereador é investigado só a justiça dirá no tempo cabível. Essa não é a nossa especialidade. Aqui, falaremos de comunicação. Arrastada para as páginas dos jornais, a crise precisa ser assim entendida, diagnosticada e combatida.
Léo Burguês deveria, para ontem, tratar de governar a narrativa. Estabelecendo novos fatos, novos contextos e outros argumentos. Sua presença na coletiva convocada por Azevedo é, à primeira vista, um desastre. Esteve no campo do oponente, falando de improviso e, pior, falando logo após.
A impressão de que uma resposta na mesma coletiva possa dar aspecto de agilidade é incorreta. Ali, o peso principal estava na fala de quem convocou e narrou os fatos primeiro. Um bom planejamento de reação estabeleceria um novo palco, com novos fatos, novas versões e, com a devida distância, novas notícias.
Para encerrar, é preciso inaugurar a partir daqui, um novo ciclo. De minha parte, jogaria tudo no chão e reconstruiria do zero. Faria bem à fachada visível de Léo Burguês. O saldo atual é: uma rede fraca, com alcance ruim e engajamento terrível, um site próprio que ainda não apresentou uma versão e nenhuma conversa de fato com os seus públicos.
Mais uma vez, a perspectiva informacional sobrepõe-se à praxiológica e, ao invés de dialogar, o vereador informa. Assim, não se relaciona, não estabelece pontes com os públicos, não consegue se conectar e não gera empatia. Ainda é tempo de se salvar! Se não juridicamente, ao menos comunicacionalmente.
Gustavo Dias
Mestre em Comunicação Social e Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisador do Grupo de Imagem e Sociabilidade da UFMG. Escreve sobre política, suas estratégias e comunicação.
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